Sonhos que assustam: fantasmas, monstros, possessões, sombras e assombrações


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Sonhos que assustam: sombras do passado, sombras ancestrais, complexos que assombram

Tenho percebido uma maior incidência de figuras sombrias e sinistras assombrando os sonhos das pessoas que trazem seus materiais oníricos para análise. Essas figuras podem assemelhar-se a espectros (fantasmas, espíritos) ou monstros (zumbis, vampiros, palhaços, serpentes, dragões) e, dentro da narrativa do sonho, perseguem, interagem, trazem avisos enigmáticos ou mesmo aproximam-se de tal forma que se tem a impressão de ser tomado por tal ente (possessão). 

A vivacidade e intensidade da carga emocional em tais sonhos é tão grande que, ao acordar, parece até que algo "vazou" do sonho e permanece acompanhando o sonhador em sua vigília, observando-o, perscrutando-o silenciosa e invisivelmente.

James Hollis, cofundador do Instituto C. G. Jung da Filadélfia, em seu livro "Assombrações: dissipando os fantasmas que dirigem nossas vidas", tem um ponto de vista interessante sobre esse tipo de ocorrência em sonhos, sintomas e sincronicidades. 

Para Hollis, "somos todos governados pela presença de formas invisíveis que perambulam através de nós, e através da história, e compreendê-las psicologicamente" não deve significar reduzi-las a "mero estado mental" (2017, p. 13). 
Essas entidades invisíveis podem apresentar-se como espíritos, fantasmas, vozes interiores... Mas também podem ser influências ancestrais e parentais, impulsos, histórias não contadas e complexos. Compreender o significado dessas figuras e forças lança luz às sombras e desse encontro com o mistério pode surgir uma vida mais profunda, mais reflexiva, mais consciente.

Algumas observações importantes a esse respeito:

1. Como a Psicologia Arquetípica considera um fantasma? 
Não desconsidero a possibilidade de haver interações com entidades ou seres espirituais; entretanto, cumpre à análise, dentro da Psicologia Arquetípica (Junguiana) perguntar: e se não for? E se essas aparições forem simbólicas, imagens que apontam para sentimentos e pensamentos que assumem essas formas para transmitirem sua mensagem aterradora? Que complexos representam? A que arquétipos estão relacionadas? O que o Inconsciente está tentando trazer à luz para aquele ou aquela que sonha? Que histórias querem se revelar?
Para aqueles que acreditam na possibilidade de sobrevivência da alma após a morte, sonhar com alguém que já morreu ou alguém que aparenta ser desencarnado cabe a difícil pergunta: Por que é mais fácil para mim pensar que se trata de um outro, um terceiro, fora de mim, do que considerar o que essa assombração revela sobre mim mesmo?

2. O que significa sonhar com fantasma? 
Não é possível traçar uma espécie de "livro de interpretação" genérico para tais figuras. Uma aparição assustadora, fantasmagórica ou monstruosa poderá ter um significado diferente a depender do contexto de vida e das bagagens que cada um carrega consigo.
Pode-se dizer, entretanto, que a aparição espectral, numinosa, carregada de afeto, pode apontar para um conteúdo que emerge das sombras do inconsciente e é portadora de vontades e mensagens. É preciso ter coragem para encará-la, conversar com ela, refletir sobre ela para descobrir o seu significado.

3. Você acredita em fantasmas? 
"Ao longo de grande parte da história humana registrada, as pessoas têm acreditado em fantasmas e assemelhados: daimons que visitam tanto poetas quanto insanos, anjos que intermedeiam ordens espirituais, para não mencionar incubi e succubi, e uma hoste de outros fenômenos e estados de possessão. Nossos predecessores consideravam as fronteiras contíguas entre os mundos visível e invisível altamente fluídas, altamente permeáveis" (Hollis, 2017, p. 13-14). A Psicologia Arquetípica irá considerar as fronteiras contíguas entre a consciência e o inconsciente para olhar o que nos assombra e perguntar: Quem em mim está arrastando essas correntes pesadas? Fazendo barulho na calada da noite? Quem ou o quê em mim está agonizando, está entre a vida e a morte, está sorumbático? De onde, em mim, surge esse monstro? Há quanto tempo carrego esses fantasmas em torres ou porões sombrios de minha alma?

4. O passado assombra você?
Enquanto o ego, gestor da consciência, se arvora a importância de dizer: "eu sei quem sou", "eu sei de onde vim e para onde vou", esquece-se de sua própria vulnerabilidade mediante o grande e complexo mistério que somos. Na agitação da vida diária, prestamos pouca atenção a outras forças que nos governam, que nos impulsionam, que nos fazem sentir, pensar e agir de forma "diferente" do que conscientemente acreditamos ser. Contamos para nós a nossa história, mas há histórias não contadas que também podem ganhar forma em nossas vidas cotidianas. Nossas histórias (aquelas que contamos e a que não contamos, aquelas que esquecemos, aquelas que contaram por nós; também aquelas que nos inserem numa narrativa maior, familiar, e outra maior ainda, as histórias de nossa origem ancestral) nos assombram.
Culpas, remorsos, vergonhas. Scripts frustrados. Roteiros de vida idealizados, superestimados, projetados sobre nós, para nós - e que não conseguimos cumprir. A assombração da vida não vivida. Karma familiar. Maldição ancestral. Relacionamentos tóxicos, nefastos, trágicos. Feridas antigas. Traumas. Sentimentos de abandono e opressão. Complexos de inferioridade, de desautorização, complexos paterno e materno negativos...
São muitas as fendas profundas de onde provém aquilo que nos assombra.
Somos uma casa muito, mas muito mais assombrada do que podemos supor.

5. É possível exorcizar essas assombrações?
Fantasmas são imagens. A cura está na capacidade de dialogar com elas, de criar novas imagens, novas narrativas, novas possibilidades para lidar com as questões presentes sem recorrer ao modus operandi internalizado de vivências e resoluções passadas. 
Somos uma casa assombrada, mas não necessariamente mal assombrada.
Mais que exorcizar, trata-se de dar atenção, dar o devido lugar a essas aparições, revê-las, revisitá-las, compreendê-las de forma ampliada, ouvi-las e ressignificá-las. Para, a partir disso, assumirmos com coragem a vida que nascemos para viver.

"De todas as assombrações, a maior é a que nós mesmos produzimos: a vida não vivida. Nenhum de nós encontrará a coragem, ou a vontade, ou a capacidade de cumprir completamente as possibilidades investidas em nós pelos deuses. Mas também somos responsáveis por aquilo que não tentamos. Até que ponto nossa pusilanimidade não enseja assombrações replicativas em nossas crianças, em nossas famílias, em nossas comunidades, em nossas nações? Até que ponto nossa fuga da luta honesta contra as várias e distintas assombrações não acrescenta ao mundo o fardo das assombrações adicionais? Como Jung coloca a questão, o que negamos internamente terá uma tendência de regressar a nós como 'destino' imposto de fora" (Hollis, 2017, p. 224).

Lembre-se: os velhos monstros do medo e da letargia sempre estarão aos pés da nossa cama, levando-nos à paralisia e à proclastinação. Mas, muitos sussurros fantasmagóricos podem estar surgindo para reforçar o convite à vida e à descoberta de suas possibilidades mais profundas. 

Referência:
HOLLIS, James. Assombrações: Dissipando os fantasmas que dirigem nossas vidas. São Paulo: Paulus, 2017.



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